domingo, 30 de setembro de 2012

A RESSURREIÇÃO ACONTECE LOGO APÓS A MORTE?


Alguns teólogos defendem, contra o ensinamento do Magistério da Igreja, que a ressurreição da pessoa aconteça imediatamente após a morte. Tanto o Catecismo da Igreja quanto a Sagrada Congregação da Fé, da Santa Sé, ensinam que a morte se dá pela separação da alma e do corpo, segundo a Tradição cristã, para  dissipar doutrinas que professam a ressurreição logo após a morte, onde isso não aconteceria.
Essa doutrina errada, de fundo holista, ensina que o corpo e alma não se distinguem realmente, portanto não se separam entre si. Conseqüentemente, quando o ser humano morre, morre como um todo (corpo-alma); e, para que não aconteça um vazio na existência do sujeito, é suposta a ressurreição do mesmo logo após a morte, sem que haja necessidade de se esperar o fim dos tempos para que ocorra a ressurreição dos mortos. A Igreja nunca aceitou essa hipótese, pois contradiz o nosso Credo.
A Congregação da Fé publicou (“Acta Apostolicae Sedis” 71; 1979, pp. 939-943) sob o título “Epistula ad Venerabiles Praesules Conferentiarum Episcopalium de quibusdam quaestionibus ad eschatologian pertinentibus” (Carta aos Veneráveis Presidentes das Conferências Episcopais a respeito de algumas questões concernentes à escatologia).
A seguir temos o  texto dos artigos da Declaração, publicado na revista Pergunte e Responderemos;Nº 275 – Ano 1984 – Pág. 266.Eis os sete pontos doutrinais contidos no citado documento:
“Esta Sagrada Congregação, que tem a responsabilidade de promover e de defender a doutrina da fé, propõe-se hoje recordar aquilo que a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto ao que sobrevém entre a morte do cristão e a ressurreição universal:
1) A Igreja crê numa ressurreição dos mortos (cf. Símbolo dos Apóstolos).
2) A Igreja entende esta ressurreição referida ao homem todo; esta, para os eleitos, não é outra coisa senão a extensão, aos homens, da própria Ressurreição de Cristo.
3) A  Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o “eu humano” subsista, embora entrementes careça do complemento do seu corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra “alma”, consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga, não obstante, que não existe qualquer razão séria para a rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos.
4) A Igreja exclui todas as formas de pensamento e de expressão que, se adotados, tornariam absurdos ou ininteligíveis a sua oração, os seus ritos fúnebres e o seu culto dos mortos, realidades que, na sua substância, constituem lugares teológicos.
5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera “a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. Constituição “Dei Verbum” l, 4), que Ela considera como distinta e diferida em relação àquela própria do homem imediatamente depois da morte.
6) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tirasse o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos.
7) A Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição acredita na felicidade dos justos que “estarão um dia com Cristo”. Ao mesmo tempo Ela crê numa pena que há de castigar para sempre o pecador que for privado da visão de Deus, e ainda na repercussão desta pena em todo o ser do mesmo pecador. E, por fim, Ela crê existir para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de Deus, a qual, no entanto é absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto  que a Igreja entende quando Ela fala de inferno e de purgatório”.
A Escritura mostra claramente a tese da ressurreição dos corpos por ocasião da segunda vinda de Cristo ou da consumação dos tempos.
 1Cor 15,22-24: “Assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. A seguir, haverá o fim, quando Ele entregar o reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo Principado, toda Autoridade, todo Poder”.
Jo 5,25.28s: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: vem a hora – e é agora – em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, viverão… Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a voz do Filho do homem e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem cometido o mal, para uma ressurreição de condenação”.
1Ts 4,16s: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares”.
O documento do Vaticano ainda afirma que “os que possuem a missão de ensinar, tenham bem claro o que a Igreja considera como pertencente à essência da sua fé”. E lembra ainda que “a pesquisa teológica não pode ter outra finalidade senão a de aprofundar e explicar o que a Igreja professa como pertencente à essência da fé”.
O Catecismo da Igreja ensina que:
§1016 – Pela morte, a alma é separada do corpo mas na ressurreição Deus restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia.
§988 – O Credo cristão – profissão da nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e na sua ação criadora, salvadora e santificadora – culmina na proclamação da ressurreição dos mortos nos fim dos tempos, e na vida eterna. §997 - Que é “ressuscitar”? Na morte, que é separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, ao passo que a sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida ao seu corpo glorificado. Deus na sua onipotência restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos unindo-os às nossas almas, pela virtude da Ressurreição de Jesus.
§998 – Quem ressuscitará? Todos os homens que morreram. “Os que tiverem feito o bem sairão para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento.” (Jo 5, 29; cf. Dn 12,2). §999 – De que maneira será a ressurreição? Cristo ressuscitou com o seu próprio Corpo: “Vede as minhas mãos e os meus pés: sou eu!” (Lc 24, 39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma nele “todos ressuscitarão com seu próprio corpo, que tem agora” (IV Conc. Latrão, DS, 801); porém, este corpo será “transfigurado em corpo de glória” (Fl 3,21), em “corpo espiritual” (1Cor 15,44).
§1001 – Quando será a ressurreição? Definitivamente “no último dia (Jo 6, 39-40.44.54;11,24); “no fim do mundo” (LG, 48). Com efeito a ressurreição dos mortos está intimamente associada à parusia de Cristo: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”(1 Ts 4,16).
         O exposto acima mostra claramente que a Igreja não aceita a hipótese da ressurreição da pessoa imediatamente após a morte; e isto não deve ser ensinado.
TEXTO Prof Felipe Aquino, Site, cancao nova

sábado, 1 de setembro de 2012

TEOLOGIA



por Renold J. Blank
convicção comum na maioria das religiões que, depois da morte, algo da pessoa humana, um espírito, uma alma ou algum outro princípio, continuará vivendo. Em muitas culturas defende-se, além disso, a idéia de que esse âmago invisível precisaria ainda passar por algum processo de purificação ou de aperfeiçoamento.
Nos escritos sagrados do hinduísmo, encontramos desde o século 6 a.C. a teoria de que tal aperfeiçoamento aconteceria através de, assim chamadas, reencarnações. As pessoas, depois da morte, teriam que voltar, em outro corpo e numa outra época, para viver outras vidas terrenas. Assim, pagariam pelas faltas cometidas em vidas anteriores ou receberiam a devida recompensa por suas boas obras.
A existência apresenta-se, a partir dessa visão, como roda sem fim de novas vivências, regidas por uma lei cósmica chamada "karma". O budismo adota a mesma crença. No contexto da cultura greco-romana, ela foi desenvolvida, desde Pitágoras e Platão, sob o nome de "metempsicose", de migração da alma de um corpo para o outro. Na época do Império Romano, as elites não-cristãs aderiram em grande parte à mesma crença, sobretudo a partir do movimento intelectual do neoplatonismo, do séc. 3 d.C. E até no judaísmo tardio do século 9 e 10, encontramos grupos que acreditavam na reencarnação.
Em meados do séc. 19, Alain Kardec formula, na França, uma síntese de várias dessas crenças, interligando-as com outras idéias sobre possibilidades de entrar em contato com espíritos de mortos. A sua concepção espalhou-se em pouco tempo sob o nome de espiritismo kardecista.
Esse espiritismo, com o seu misticismo científico, tornou-se a grande base para todos aqueles que quiseram manter a idéia de uma sobrevivência depois da morte, sem por isso adotar a explicação, aparentemente mais mística do que científica, das religiões cristãs. A reencarnação parecia responder, ao mesmo tempo, aos anseios de seus corações e às exigências rigorosas da lógica intelectual.
As explicações de seus defensores pareciam lógicas e as supostas provas, apresentadas numa linguagem que soava muito científica, convenceram e ainda convencem até muitos cristãos. Isso, sobretudo, quando esses cristãos, nem de longe, sabem daquilo que, em nosso último artigo, foi chamado de "prova sociológica da ressurreição".
Deus ressuscita
o homem e, uma vez
ressuscitado por Deus, esse
homem nunca mais morre.
Deus não ressuscita
só uma parte espiritual
do homem, uma alma
espiritual, mas a pessoa
humana inteira, global
e completa. E ele o faz,
porque ama esses seres
humanos.
Assim se espalhou a crença na reencarnação e até muitos cristãos esqueceram-se da alternativa chocante e inovadora, com a qual a sua própria religião responde à indagação sobre o destino do homem depois da morte: a ressurreição. Essa idéia revolucionária de que o homem, depois da morte, entraria numa forma de existência totalmente outra, nova, em dimensões que nem o intelecto mais imaginativo poderia imaginar, parecia ter perdido muito de seu poder de atração. Por causa disso, vale a pena lembrar de novo a sua gênese e a sua tese absolutamente deslumbrante.
Em oposição total a todos os argumentos lógicos e bem formulados dos adeptos da reencarnação, a idéia de que o último destino do ser humano iria além de uma repetição limitada ou ilimitada de sempre novas vivências, formou-se como crença ardente e viva de um povo insignificante aos olhos de todos os poderosos: Israel.
Nascida a partir de vivências históricas, dentro das quais o povo tinha experimentado a presença de um Deus totalmente diferente de todos os outros deuses da época, surgiu uma nova convicção: este Deus, que era tão diferente de todos os outros, também diante da morte de uma pessoa humana agiria de maneira diferente. "Nosso Deus é um deus da vida"! esta era a convicção central e, sendo ele assim, não deixará o ser humano desaparecer na morte.
Essa fé mantinha-se e expandiu-se durante séculos como a grande alternativa, contra todas as expectativas de todas as outras religiões e filosofias. "Deus é mais forte que toda morte", e como se mantém fiel à pessoa humana, ele a ressuscitará, de tal maneira que nunca mais ela tenha que experimentar a morte.
Não obstante todas as experiências traumáticas e catastróficas pelas quais Israel passou, essa sua concepção de esperança além da morte, já no século 4 a.C., alcança uma forma bem explícita, formulada, entre outros, no grande texto de Isaías, cap. 26, 19: "Teus mortos reviverão, os cadáveres ressurgirão! Despertai e alegrai-vos, vós que habitais o pó".
Não se fala de uma alma, nem de um espírito, que ressurgirá ou que por si seria imortal ou eterno. Exprime-se a convicção de que a pessoa inteira, na sua morte, será resgatada pelo agir de Deus. É ele que age, ressuscitando o ser humano que morreu, para que nunca mais morra. Nesses termos, ficava a convicção de uma fé cheia de esperança e que permaneceu, no nível de fé, por mais de 400 anos, até que foi confirmado historicamente pelo chocante evento que conhecemos pelo nome de "ressurreição de Jesus".
Sobre a historicidade de tal evento e seu significado, falamos em nosso último artigo. A partir dessa ressurreição, aquilo que antes tinha sido fé, alcançou uma base empírica, científica e histórica. Um morto tinha voltado à vida, porque "Deus o tinha ressuscitado". Assim formulam as testemunhas daquela época e, por seu testemunho, quase todos tinham que morrer nas perseguições. Mas nem por isso mudaram.
Deus ressuscitou Jesus e, ressuscitando este morto, confirmou a fé dos séculos passados. Ele, de fato, é um Deus capaz de ressuscitar mortos. Ele não só é capaz, mas ele o faz. Paulo, o brilhante primeiro intelectual entre os seguidores de Jesus, formula de maneira bem clara: "Deus, que ressuscitou Jesus, ressuscitará também a nós pelo seu poder".
Esse primeiro ressuscitado, Jesus, ao qual Paulo se refere, em nada era compreendido como sendo um reencarnado. Um reencarnado, conforme toda a teoria da reencarnação, se tivesse aparecido em outra época, em outra forma, dentro de um contexto histórico diferente.
Jesus, porém, não era diferente. Era ele mesmo e se lembrava completamente de tudo aquilo que tinha dito e feito antes de sua morte - o que um reencarnado nunca consegue. Jesus foi ressuscitado e não reencarnou, disso todas as testemunhas não tinham a mínima dúvida.
A partir dessa experiência, todo pensamento sobre reencarnação parecia simplesmente ridículo, superado e sem interesse nenhum. Por que pensar em repetir quantas vivências no contexto problemático deste mundo, se Deus demonstrou, em Jesus, de maneira tocável e visível, uma outra alternativa? Alternativa melhor e digna de um Deus, do qual se diz que ele quer a vida e que é a vida.
Deus ressuscita o homem e, uma vez ressuscitado por Deus, esse homem nunca mais morre. Deus não ressuscita só uma parte espiritual do homem, uma alma espiritual, mas a pessoa humana inteira, global e completa. E ele o faz, porque ama esses seres humanos.
Ele os ama de tal maneira que não quer esperar uma infinidade de sempre novas reencarnações, através das quais eles se purificariam progressivamente. Uma única vida basta e, depois dela, Deus ressuscita o homem, para que seja amparado no amor e na plenitude de vida dele. E, hesitando e balbuciando, tenho a coragem de dizer: para que Deus seja amparado no amor desse ser humano, que tanto ama e por cujo amor tudo faz.
É essa a grande convicção de esperança que, a partir de Jesus, começou a conquistar o mundo e que hoje, de novo, devemos recuperar.
RENOLD J. BLANK, doutor
em Teologia e em Filosofia,
é professor titular da Pontifícia
aculdade de Teologia de São Paulo
E-MAIL: renoblank@uol.com.br
LEITURA
"Escatologia da Pessoa"
de Renold J. Blank, Paulus,
3.ª ED./2000, 343 PÁG.